quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Cândido Sales no Dia Mundial de Luta contra a Aids



Hoje fui convocada a participar de uma caminhada em comemoração ao Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Como profissionais de saúde, todos os dias são dia de educar para a prevenção, mas ajuda ter carro de som, bexiga e preservativos à vontade para distribuir. 

O nosso trabalho começou cedo. Fizemos uma vaquinha, saímos ontem e compramos o material para confeccionar a fantasia de preservativo gigante. Depois de uma certa ansiedade, a nossa amiga mais corajosa ficou sendo o recheio da fantasia, e se auto-batizou de Penilson. Na caminhada ela foi ganhando mais apelidos, o que nos arrancou mais risadas foi o de "rolona doida". Doida parecia, ninguém queria receber as camisinhas da mão dela, o que a obrigou a sair correndo atrás de umas adolescentes mais envergonhadas.

Foi legal perceber como a maioria das pessoas recebeu o preservativo de brinde e agradeceu. Com naturalidade. Só vi um senhor recusar de cara fechada. Acho que ele era ancião de alguma igreja, não sei. Outras senhoras recusaram, mas recusaram rindo. Muitos rapazes pediram mais, disseram que só três não era o suficiente. As moças guardavam rápido as embalagens roxas e chamativas.

Um menino com cara de ter uns 10 anos veio me pedir um preservativo, mas a enfermeira tinha dito para não entregarmos para  criança. Expliquei isso para ele, e ele insistiu: "Mas eu já tenho namorada!".

Minha colega (a que costurou a fantasia de preservativo e é bem palhaça) recebeu o pedido de uma senhora de uns setenta anos apoiada em um cajado. Ela disfarçou, pegou na mão da mulher e seguiu andando. Eu perguntei pra ela por que não quis dar o preservativo para a senhora, ela respondeu que a velhinha não precisava mais disso. E eu, "Vá saber!"

Foi um dia divertido. Infelizmente, a gente sabe que o uso da camisinha não é tão natural assim. Vemos isso pelo número de DST's que atendemos todos os dias nas Unidades de Saúde da Família. Percebemos isso pelo número de jovens que sentem vergonha de ir buscar pessoalmente o preservativo na unidade e pedem aos agentes comunitários para buscar e mais, pelo grande número de pessoas que se recusam a nos perguntar pelo assunto. A camisinha ainda é vista como um mero contraceptivo, o que é menosprezar a sua utilidade. Sei que se recomenda às grávidas que utilizem o preservativo durante a gravidez, e todos os casais que passam pelo Planejamento Familiar também são orientados a usar, além do método anticoncepcional escolhido, o preservativo. Sobre o preconceito ao redor dos pacientes de HIV, nem comento, na cidade pouquíssimos assumem a doença e o mais grave, poucos contam aos parceiros.

Mesmo assim, foi um dia divertido. Saí dele com alguma esperança.

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