“Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola”
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola”
(Chover (ou Invocação Para Um Dia Líquido); Cordel Do Fogo Encantado; Composição: Lirinha, Clayton Barros)
Li esta semana uma lúcida declaração do Senador Cristovam Buarque sobre a questão da chuva no nordeste. O senador lembrou aos seus companheiros no Senado que o problema do nordeste com a chuva não é porque “a chuva não goste dos pobres”, tão pouco porque os pobres não gostam da chuva.
Por aqui, a chuva é benção, é aguardada ansiosamente todos os anos para irrigar as plantações de quem não pode contar com as mega obras do governo para desviar rios de seus cursos.Quando a chuva vira vetor de destruição na região, cabe-nos entender que fatalismo não resolve a situação. A solução é prevenção e planejamento.
O povo da sertão, especialmente os pequenos agricultores, sabe conviver muito bem com os períodos de chuva e de escassez: cultiva espécies resistentes à escassez de água, planta no tempo certo, reserva energias e recursos para atravessar as estiagens, põe mãos à obra quando vê as nuvens se aproximarem. Nosso povo gosta, precisa e respeita o ciclo da natureza. A chuva, como qualquer pessoa adulta sabe, não é uma entidade capaz de amar ou desgostar de ninguém, é apenas parte do ciclo das águas na natureza. A obrigação de se adaptar aos ciclos naturais e às mudanças que a irresponsabilidade humana causam a estes ciclos é das pessoas ... e do Governo.
Em sua declaração, Buarque distribui muito bem as responsabilidades sobre as tragédias humanas ocorridas no nordeste. A responsabilidade é dos políticos, que deveriam usar os recursos e conhecimentos já existentes para evitar as perdas humanas e econômicas, e é também do povo, “porque não despertaram para um fato: o risco de que a próxima chuva destrua sua casa está dentro da urna onde depositam seus votos".
A insistência do governo em ignorar coisas essenciais (como áreas de risco de desmoronamentos e enchentes, regiões com baixa produtividade econômica em decorrência da dificuldade do acesso á água) só pode nos levar a mesma conclusão do senador Buarque: quem não gosta dos pobres são os políticos, não a chuva.
E adivinhem! Estamos no ano de eleição. Pois é, cuidado para não digitarem besteira na hora do voto. Urna não é pinico. É mais útil eleger um político com propostas concretas para enfrentar os problemas da sua região do que eleger aquele que te deu um saco de cimento. A não ser que você ache que um saco de cimento basta para desviar o curso de uma enchente.
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