quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quando o cinismo semeia ignorância


Não sei se rio ou se choro quando ouço alguém dizer que não existe preconceito racial no Brasil. Tenho vontade de rir porque penso que o sujeito está fazendo piada, dá vontade de chorar quando percebo que o sujeito leva a sério o que está dizendo. Concordo que esse tipo de discurso na boca da high society e das suas marionetes de praxe seja previsível, porém, assistir o povão engolir essas lorotas por ignorância dá tristeza.


É só analisar as respostas dos questionários socioeconômicos, o quadradinho do “pardo” é o mais popular de todos, resumão dos moreninhos, mulatinhos, cafés com leite, sararás, meio lá meio cá incapazes de assumirem que são negros. Raça no Brasil é questão de opinião, a opinião dos outros. Basta o cabelo um pouquinho mais liso, a pele um pouco mais clara para que o cidadão se salve de ser taxado como negro. A sorte é que ainda não inventaram o quadradinho que pergunta se o cabra é nordestino ou não, o que ia ter de assassinato da geografia não está escrito...


 Infelizmente, pouca gente tem orgulho de se declarar negra. E isso acontece por quê? Deve ter alguma coisa relacionada com o fato da mídia menosprezar, esconder e denegrir a população negra e daqui pra frente terá ligação com o fato dos nossos excelentes legisladores terem deixado de fora do Instituto da Igualdade Racial o artigo que obrigava percentuais de negros na televisão e nas universidades.


É mais ou menos o que a Lei Áurea fez, libertou os negros para a miséria. O Estatuto pretende defender-nos do preconceito racial, mas resguarda o direito dos telespectadores preconceituosos de assistirem a sua programação de TV regular sem personagens desagradáveis. Porque, vamos reconhecer, a televisão brasileira só consegue mostrar um negro na programação se ele for escravo, bandido ou subserviente. Mais que isso é forçar demais os neurônios dos pobres produtores. Aliás, por que tem gente que ainda assiste TV, hein?


E tem até antropólogo cara de pau para falar que as cotas raciais nas universidades são discriminatórias. Notem que não é discriminatório o fato de que as melhores universidades públicas estejam repletas de pessoas com poder aquisitivo para pagarem as melhores universidades particulares enquanto os estudantes de baixo poder aquisitivo precisam se endividar com financiamentos para freqüentarem instituições particulares de qualidade duvidosa. E ainda tem mais caras de pau para dizer que colocar pobre e preto na universidade é baixar o nível do ensino superior do país. Em baixo nível este ensino já está, pois é incapaz de criar soluções para melhorar o nível da educação básica. Desconfio que não estejam preocupados com isso, afinal, educação básica é coisa de pobre, rico estuda em escola particular.


Igualdade também é conversa de pobre, né? Rico não precisa disso, a igualdade dele é garantida por nascimento e oportunidade. Ás vezes eu fico pensando se alguém leva a sério mesmo aquela lenda velha de que um menino nascido na humildade pode se tornar o governante de um país, é o mesmo que dizer que todos os dias nascem Lulas, Mandelas, Jesus Cristos... 


Dizer que vivemos em um mundo em que a igualdade não precisa ser garantida por Lei é quase como dizer que o Juízo Final fechou a sessão e vivemos todos no Paraíso...

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